terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Fim de tarde

Não há nada mais para falar.
A novela já foi comentada.
Os reality shows já foram lembrados.
Os programas da tarde já foram falados.
O filme da noite já foi criticado.
Não há mais nada a ser dito.
Ela baixa seu olhar procurando um não sei o quê para se concentrar.
Ele estrala os dedos e dá um longo suspiro.
No sofá, há dois palmos de distância.
Não há conhecimento físico. Não há aprofundamento mental. Não há desprendimento espiritual.
Lá fora uma mãe passarinho leva comida para os filhos que acabaram de eclodir de seus ovos.
Uma lagartixa come uma barata.
Um menino passa no vestibular.
No vizinho, crianças correm atrás de uma bola.
Na esquina um casal se beija.
No bar, um grupo de amigos brinda ao dia.
Porque é sempre um dia. Não é apenas mais um dia.
No sofá é apenas mais um dia.
Vestígios de carne humana.
Restos de massa corporal.
Biologia típica, apenas sangue, suor e degradação.


RAISSA PERSIANI DE CAMPOS- MANIFESTO CONTRA A CEGUEIRA MODERNA

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